A folha de bordo...

   Ryokan, um poeta zen japonês do final do século XVIII e do começo do século XIX, escreveu este poema simples:
  "A folha de bordo
   Caindo
   Mostrando a parte da frente
   Mostrando a parte de trás."
   A ação da folha de bordo, caindo, mostrando a parte da frente, mostrando a parte de trás - o modo como cai da árvore, quando cai da árvore, onde ela pára no chão - tudo isso exemplifica a ação correta. Como esse tipo de ação é diferente dos tipos de ação voluntária e orientada para uma meta com que estamos tão familiarizados!
   Imagine uma folha de bordo que diz no solstício de verão: "Estou saindo. Estou deixando esta árvore." E lá vai ela, tombando, enquanto ainda é verde. Ou imagine a folha que não quer cair. Ela pende durante todo o inverno, sem querer se mover nem mudar, até que o botão do ano seguinte deite um broto. Então temos a folha que não quer ser "apenas uma folha ao vento". Quando ela cai do ramo, ela se enrola e assume a forma de canhão no chão. 
   Que tipo de desenho essas folhas criarão no chão?  Será um desenho bem diferente do descrito por Ryokan.
   As folhas, é claro, não têm motivos. Nós, seres humanos, contudo, agimos dessas três formas numa base regular. Ao tentar exercer controle sobre as pessoas, sobre as coisas e os eventos, insistimos obstinadamente ou fazemos o que nos agrada.
   A ação da folha de bordo vogando lentamente ao vento de Ryokan - natural, involuntária - demonstra a ação correta. A ação das outras folhas, que exemplifiquei de um modo tolo, é voluntária. Esses dois tipos de ação levam a resultados bem diferentes.   

Steve Hagen em "Budismo claro e simples".

Comentários