Samsara

"Como um véu, qual névoa pouco espessa, a fadiga envolvia Sidarta, lentamente, tornando-se mais densa dia a dia, mais turva mês em mês, mais pesada de ano em ano. Assim como um belo vestido se desgasta com o tempo, e com o tempo desbotam as suas belas cores, assim como nele se criam rugas, e os debruns se tornam puídos, e a fazenda em alguns lugares começa a desfiar, assim envelhecera também aquela vida diferente que Sidarta iniciara, depois de separar-se de Govinda. Enquanto os anos se escoavam, perdera seu brilho e colorido. Rugas e manchas apareciam nela e, no seu fundo, ainda ocultos, porém de quando em quando exibindo o semblante feio, repousavam o nojo e a desilusão. Sidarta não notou nada disso. Apenas percebeu que silenciara aquela voz clara, firme, que outrora ressoava em seu coração e o norteara continuamente no apogeu de sua existência.

O mundo apanhara-0 nas suas malhas, o prazer, a cobiça, a inércia e, finalmente, também aquele vício que se sempre lhe afigurara o mais estúpido de todos: a avareza."


Herman Hesse em "Sidarta".

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