Será que a mente inventou a própria mente?


Sente-se ereto, com o diafragma decontraído, o peito aberto, os ombros bem colocados e relaxados, repirando pelo ventre. Relaxe toda a área do rosto, especialmente o entorno dos olhos. Traga sua atenção para o espaço diante de você, diretamente na linha do seu olhar, ao longo da linha do nariz, mas sem focalizar. Deixe que sua consciência visual paire suavemente no que os tibetanos chamam de "espaço de dentro". Por um minuto, ou dois, volte sua atenção para dentro. Assim que um pensamento, lembrança, imaginação ou qualquer evento mental surgir, esteja presente nele e consciente dele. Ele não deverá se dissipar sem que seja notado. Você o detecta rapidamente, sem impedi-lo. Para tudo que surgir na sua mente, você está ali no presente, sem deslizar para as memórias ou para a imaginação, mas flutuando ali na entrada da mente onde emergem os eventos mentais. Permaneça ali por um minuto ou dois, estabelecendo a mente no seu estado natural.

Agora prossiga para a prática do insight, examinando a natureza não nascida da consciência. Esta prática é parte do terma, ou ensinamentos do tesouro, o Natural Liberation: Padmasambhava's Teachings on the Six Bardos. Este terma foi descoberto por Karma Lingpa, no século XIV, em uma caverna na montanha Gampo Dar, no Tibete Central, e é atribuído ao mestre indiano do tantra do século VIII, Padmasambhava. Ele passou a seguinte instrução quintessencial:
Enquanto sustenta o olhar firme, mantenha a consciência inabalável, firme, clara, sem distrações e fixada, sem ter nada sobre o que meditar, na esfera do espaço. Quando a estabilidade aumentar, examine a consciência, que é estável. Então, gentilmente, libere e relaxe. Coloque-a de novo firme e resolutamente observe a consciência desse momento. Qual é a natureza dessa mente? Permita que ela se observe fixamente. É clara e firme ou é um vazio que é nada? Existe algo ali a ser reconhecido? Observe novamente. (...) Observe aquilo que esta colocando e a mente que está sendo colocada se são um ou dois. Se não houver mais do que um, esta é a mente? Como é a mente? Com firmeza, observe a consciência do meditador e investigue-a. Na verdade, esta chamada mente realmente existe? Ou existe um vazio, que é o nada? Se você disser que é um vazio que é o nada, então, como um vazio que é o nada sabe meditar? De que adianta dizer que você não pode percebê-lo? Se for realmente o nada, o que é que produz o ódio? Não existe alguém que pense que a mente não foi descoberta? Pondere sobre isso com perseverança.
B. Allan Wallace em "Budismo com atitude"

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