Ciclo do sofrimento (ou, o nosso dia à dia que passa desapercebido)


Samsara é um círculo de sofrimento, como uma roda que gira incessantemente. Fazemos girar a nossa roda. Continuamos a procurar algo que seja diferente. Da próxima vez seremos felizes. Este relacionamento não deu certo - mas o próximo dará. Este restaurante não é tão bom assim - mas o próximo item do cardápio vai me agradar. Minha última sessão de meditação não foi grande coisa, e tampouco a imediatamente anterior - mas a próxima será verdadeiramente diferente. Uma coisa conduz a outra e, no lugar da simplicidade e da felecidade que desejamos, nos sentimos apenas mais sobrecarregados pela vida. em vez de relaxarmos na bondade fundamental que nos liga com todos os outros seres vivos, sofremos a doença da separação, que é apenas um truque da nossa mente.

O Buda disse: "O verdadeiro sofrimento é a natureza do samsara". Podemos até não ver o sofrimento em nossa vida, em parte porque nos acostumamos com ele. Mas, se olhamos abaixo da superfície, percebemos que o sofrimento se infiltra como um rio subterrâneo. Podemos reconhecer isso ou não, no entanto, sentimos isso e conservamos uma vigilância mental para nos mantermos ocupados, numa tentativa de evitá-lo. Repetidamente inventamos esquemas para enganar o samsara. Embora saibamos que nada altera o caráter básico do samsara, continuamos tentando fazer com que ele dê certo. Para manter o prazer que temos, é preciso um grande esforço de manutenção. É assim que tentamos fazer o samsara funcionar, e é isso que nos conserva na roda. Pensamos; "Sei que não tem fim. Sei que é doloroso. Sei o que você está dizendo. Mas tenho só uma coisa mais para fazer, só uma pequena coisa." PODEMOS IR PARA A SEPULTURA DIZENDO ISSO. Isso é o samsara. "Só uma mais" - este é o fator que aglutina o ciclo do sofrimento.


Sakyong Mipham em "Fazer da mente uma aliada"

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