Molduras...

   A verdade, claro, é que ninguém pode apreender toda a realidade, que o universo de cada pessoa é, até certo ponto único, e que essa circunstância torna impossível provarmos a existência de apenas uma realidade autêntica. Mesmo que nos pudéssemos libertar da fantasia e da ilusão (não porque isso seja necessariamente uma boa idéia), no máximo só chegaríamos a um acordo em relação a pequenos fragmentos da realidade. Portanto, tudo está emoldurado, cortado no seu contexto cósmico pelas limitações e peculiaridades de nossos sentidos, pelos preconceitos de nossos pressupostos, pela multiplicidade de cada mente individual e pelas restrições de nossa linguagem. Podemos sentir-nos mais à vontade com nossa própria moldura referencial do que com a dos outros, e considerá-la mais válida, mas as molduras ali estão, apesar disso. Não há como fugir delas; o universo conhecido é, e sempre será em certo sentido, uma criação de nossas mentes (que esperamos que sejam criativas). Magritte deixou isso claro num quadro de 1933, no qual uma tela sobre um cavalete registra todos os detalhes da vista para além da janela que ela parcialemente obstrui, e que incluem até nuvens cúmulus que passam. Deu a esse quadro o nome de A condição humana.    

Timothy Ferris em "O céu da mente".

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