Montando na energia da bondade fundamental.

   Experimentamos a bondade fundamental quando relaxamos profundamente em como as coisas são, sem desejar mudá-las. A partir desse estado sutil, o bodhichitta flui com naturalidade. Essa é a mente da iluminação. Nós nos aliamos a ela quando usamos a meditação para dissolver a ilusão do eu. Podemos agora confiar na energia da mente tal como podemos confiar na energia de um cavalo. O espírito majestoso da nossa mente-cavalo selvagem foi domado e concentrado no cavalo-vento, a energia primordial da bondade fundamental. Nossa prática consiste agora em cavalgá-la.
   Nós a chamamos de cavalo-vento porque sua natureza é elevada, forte, exuberante e brilhante. Ele corre a galope e sua crina é agitada pelo vento. Quando visitei o Tibete, vi o cavalo-de-vento na maneira de montar dos guerreiros que usavam trajes como os do rei Gesar, o herói épico do Tibete. Fazer da mente uma aliada dá-nos o poder de cavalgar o radiante cavalo-de-vento, em qualquer situação. Montar a energia da bondade fundamental é como cavalgar os raios de um sol que está sempre nascendo. Na tradição budista Shambala, chamamos isso de Sol do Grande Leste. Tudo o que encontramos resplandece com a dignidade e o esplendor da bondade fundamental, e vemos um mundo sagrado. Com essa visão, começamos a deitar os alicerces de uma sociedade iluminada.
   Como vivemos a partir da base imaculada e pura da bondade fundamental? Como geramos a cada encontro um coração compassivo? Como plantamos a flor do bodhichitta na rocha da idade das trevas? O modo mais rápido e prático de fazer isso é afrouxar o controle sobre nós mesmos. É então que o cavalo-de-vento se faz mais acessível. Sempre volto a uma de minhas frase favoritas: "Se quiser sentir-se desgraçado, pense em si mesmo. Se quiser ser feliz, pense nos outros". É assim que fazemos com que a mente iluminada desça e retorne à realidade. 

Sakyong Mipham em "Fazer da mente uma aliada".     

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