O apego.

   A percepção de "eu" como algo separado dos "outros" é, como já discutido, um mecanismo essencialmente biológico - um padrão estabelecido de tagarelice neuronal que sinaliza a outras partes do sistema nervoso que cada um de nós é uma criatura distinta e independentemente existente que precisa de certos fatores para perpetuar sua existência. Como vivemos em corpos físicos, algumas dessas coisas das quais precisamos, como oxigênio, comida e água, são realmente indispensáveis. Além disso, estudos sobre a sobrevivência de bêbes, sobre os quais a pessoas me falaram, têm mostrado que a sobrevivência requer certo nível de cuidados físicos. Precisamos ser tocados, precisamos que falem conosco, precisamos que o simples fato de nossa existência seja reconhecido. 
   Os problemas começam, entretanto, qaundo generalizamos biologicamente os fatores essenciais para áreas que não têm nada a ver com a sobrevivência básica. Em termos budistas, essa generalização é conhecida como "apego" ou "desejo" - que, a exemplo da ignorância, pode ser vista em termos puramente neurológicos. 
   Quando vivenciamos algo como o chocolate, por exemplo, como agradável, estabelecemos uma conexão neuronal que vincula o chocolate à sensação física de prazer. Isso não significa que o chocolate em si seja algo bom ou ruim. Há diversas substâncias químicas no chocolate que geram uma sensação física de prazer. É o nosso apego neuronal ao chocolate que cria problemas.
   De muitas formas, o apego é comparável a um vício, uma dependência compulsiva de objetos externos ou de experiências para criar uma ilusão de completude. Infelizmente, como outros vícios, o apego se intensifica com o tempo. Qualquer satisfação que possamos vivenciar quando conseguimos algo ou alguém que desejamos não é duradoura. Qualquer coisa ou pessoa que nos faça feliz hoje, neste mês ou neste ano é obrigada a mudar. A mudança é a única constante realidade relativa.
   O Buda comparava o apego a beber água salgada de um oceano. Quanto mais bebemos, mais sede temos. 

Yongey Mingyur Rinpoche em "A alegria de viver".  

Comentários

  1. Olá, seu texto me fez lembrar um sonho, eu estava no espaço numa teia, onde todos estavam conectados, o que acontecia com um repercutia no outro atraves de uma grande onda de energia, um evoluia levava os outros, acordei leve, feliz, bem zen o dia todo.

    Vivendo e aprendedo

    Beijos e uma linda semana

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