Esforço e felicidade...

   Somos muito parecidos com aqueles pássaros que passaram tanto tempo na gaiola que mesmo quando têm a possibilidade de voar para a liberdade voltam a ela. Estamos tão acostumados com nossos erros que mal podemos imaginar como seria a vida sem eles. A perspectiva de mudança nos dá vertigens.
   E isso não é falta de energia. Como dissemos, fazemos esforços consideráveis em um sem-número de direções, empreendendo incontáveis projetos. Como diz um provérbio tibetano: "Eles têm o céu estrelado como chapéu e o gelo como botas", porque ficam acordados até tarde da noite e acordam antes do amanhecer. Mas se nos ocorre pensar: "Eu deveria tentar desenvolver o altruísmo, a paciência, a humildade", hesitamos, e dizemos a nós mesmos que essas qualidades virão naturalmente a longo prazo, ou que não são grande coisa, e que até agora passamos perfeitamente bem sem elas. Quem, sem esforços metódicos e determinados, pode interpretar Mozart? Certamente isso não é possível se ficarmos martelando o teclado com dois dedos. A felicidade é um modo de ser, é uma habilidade, mas para desenvolvê-la é necessário aprendizado. Como diz o provérbio persa: "A paciência transforma a folha de amora em seda."

Matthieu Ricard em "Felicidade: a prática do bem-estar".   

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