Qual é a sua motivação?

   A palavra tibetana para motivação é künlong. Significa "subir acima de, avançar". Ativando a motivação, tornando-a maior, é assim que avançamos além do samsara. É preciso coragem para aumentar a motivação. O primeiro passo na expansão da motivação é parar e perceber o que estamos fazendo. Podemos começar por perguntar: "Qual é a finalidade da minha vida, seu verdadeiro significado? Qual minha motivação ao viver esta vida?". Quanto mais contemplamos a motivação, mais ela se torna uma força potente e poderosa. 
   Tradicionalmente, há poucos níveis diferentes de motivação pelos quais podemos viver. Essas motivações são um desenvolvimento natural do potencial humano. A primeira motivação é cuidar de nossas necessidades materiais. Essa é uma motivação de senso comum. Temos de comer, vestir-nos e manter-nos aquecidos. É bom cuidar da família e de nós mesmos. Contudo, se essa é a única motivação, não estamos realizando o potencial humano. 
   A segunda motivação é um pouco mais ampla: combinamos as metas mundanas com a prática espiritual. Em nossa cultura muitos praticantes são motivados por preocupações mundanas e usam a espiritualidade para serem bem-sucedidos em realizar os seus desejos. Não há nada errado em usar a prática espiritual para obter o que desejamos. As pessoas sempre fizeram oferendas os deuses a fim de ter a garantia de colheitas abundantes. Entretanto, deveria ficar claro que no âmago dessa motivação se assenta o desejo de nossa própria satisfação. O perigo dessa motivação está em pensarmos que estamos nos transformando em pessoas menos mundanas, quando o que acontece é que distorcemos a prática para fortalecer nossa zona de conforto. Isso é uma cilada comum, não um crime.
   A motivação amplia-se ainda mais quando começamos a pensar em como nossos atos presentes podem nos afetar depois da morte. Essa motivação maior provém da percepção da vasta interligação de causa e efeito, e do fato de nossas atividades atuais afetarem diretamente o que acontecerá conosco no futuro. 
   Todas essas motivações são consideradas pequenas, porque estão centradas em nossa própria felicidade, em oposição à felicidade dos outros. No entanto, cada uma delas é um pouco maior do que a anterior, porque sua perspectiva é mais ampla. O que assinala a fronteira entre uma pequena motivação e uma grande é a mudança de enfoque, de nossa própria felicidade para a felicidade dos outros. 

Skayong Mipham em "Fazer da mente uma aliada".   

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