Um esforço necessário...

   A maior parte das pesquisas atuais da área da psicologia que têm como objetivo de estudo o controle das emoções concentra-se em como dirigir e modular as emoções depois que elas já invadiram a nossa mente. O que está faltando, ao que parece, é o reconhecimento de que uma atenção mais desenvolvida e uma clareza mental - a "presença mental" do budismo - podem desempenhar papel central nesse processo de controle. Reconhecer a emoção no exato momento em que ela surge, compreender que ela não é nada mais que um pensamento - desprovido de existência intrínseca -, permitir que ela se dissipe de maneira a evitar a reação em cadeia a que via de regra daria origem são atitudes que estão no cerne da prática contemplativa budista. 
   Sabemos que a maestria em qualquer disciplina, música, medicina, matemática, etc., requer treinamento intensivo. No entanto, parece que no Ocidente - com exceção da psicanálise, cujos resultados são, na melhor das hipóteses, incertos, e o processo, doloroso - não é comum que sejam empreendidos esses esforços persistentes que visam, a longo prazo, transformar os estados emocionais e o temperamento. A própria meta da psicanálise é diferente da estabelecida pela psicologia positiva ou pelo budismo, que buscam não apenas "normalizar" o nosso modo neurótico de funcionar no mundo. A condição considerada "normal" é, nos dois casos, apenas o ponto de partida, não o objetivo. A nossa vida vale muito mais do que isso! Disse-me certa vez Martin Seligman: "O melhor que ela [a psicanálise] pode fazer é nos levar de menos dez para zero."
   Esse esforço, no entanto, é muito desejável. Precisamos nos livrar das toxinas mentais e, ao mesmo tempo, cultivar os estados da mente que contribuem para o equilibrio emocional e asseguram o bom desenvolvimento de uma mente saudável.

Matthieu Ricard em "Felicidade: a prática do bem-estar".

Comentários

  1. Muito bom o texto!

    E é isso aí mesmo... Como diria o Prof. José Hermógenes, não basta que reconheçamos nosso estado de "normose"; é preciso ir além e superá-lo para um novo modus vivendi - do contrário, a tão almejada Paz Interior nunca irá passar de um mero conceito.

    Gasshô, LJ.

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