Odiar o ódio...

   O único alvo ou objeto que continua sendo posível para o ódio é o próprio ódio. Odiar o ódio: este é o inimigo pérfido, obstinado e inflexível que incansavelmente transtorna e destrói vidas. Por mais apropriada que a paciência sem fraqueza possa ser diante daqueles que consideramos nossos inimigos, é totalmente inadequado ser paciente com o nosso próprio ódio, independentemente das circunstâncias. Como disse Khyentse Rimpoche: "É hora de redirecionar o ódio para longe dos seus alvos habituais, os nossos assim chamados inimigos, e voltá-lo contra ele mesmo. É o ódio o seu inimigo verdadeiro e a ele que você deve destruir." De nada adianta tentar reprimi-lo ou revertê-lo, devemos ir às suas raízes e arrancá-las de uma vez. Vejamos mais uma vez as palavras de Etty Hillesum: "Eles falam de extermínio. É melhor exterminar o mal dentro de um homem do que exterminar o próprio homem." Assim, ele confirma, doze séculos mais tarde, as palavras do poeta budista indiano Shantideva: "Quantos malfeitores matarei? O número deles é infinito como o espaço. Mas se eu matar o espírito do ódio, todos os meus inimigos serão mortos de uma só vez."
  
Matthieu Ricard em "Felicidade: a prática do bem-estar".

Comentários