Livre do passado, livre do futuro...

   Certo dia, um tibetano foi visitar um velho sábio na cidade de Ghoom, próxima a Darjiling, na Índia. Ele começou contando a esse sábio todos os seus infortúnios passados, em seguida passando a fazer uma lista de tudo o que temia quanto ao futuro. Durante todo o tempo, o velho sábio ficou com toda a calma assando batatas em um pequeno braseiro que estava no chão à sua frente. Passado algum tempo, disse ao seu queixoso visitante: "De que adianta preocupar-se com coisas que não existem mais e com coisas que ainda não existem?" Perplexo, o visitante parou de falar e permaneceu calado por um bom tempo ao lado do sábio - que, de quando em quando, lhe estendia uma batata quente e tostada.
   A liberdade interior nos permite saborear a lúcida simplicidade do momento presente, livre do passado e emancipado do futuro. Libertar-nos da invasão de memórias do passado não significa que sejamos incapazes de tirar lições úteis da própria experiência. Libertar-nos do medo do futuro não torna incapazes de nos aproximarmos dele com lucidez, mas nos salva de atolar em pensamentos inúteis.     

Matthieu Ricard em "Felicidade: a prática do bem-estar". 

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