Um olhar para dentro...

   Como aceitamos o fato de não consagrar nem mesmo alguns breves momentos do dia à introspecção? Estamos endurecidos, insensíveis, blasés, a esse ponto? Ficamos realmente satisfeitos com uma conversinha espirituosa e um pouco de entretenimento banal? Vamos olhar para dentro. Há muito a fazer.
   Vale a pena dedicar um momento de cada dia para cultivar o pensamento altruísta e observar o funcionamento da mente. Que não haja dúvidas: essa investigação nos ensinará mil vezes mais, e de maneira muito mais duradoura, do que uma hora dedicada a ler as notícias locais ou os resultados esportivos! Não se trata de ignorar o mundo, mas de fazer bom uso do nosso tempo. De qualquer maneira, não precisamos ter medo de cair no extremo, vivendo como vivemos, nesta era de distrações onipresentes, em que o acesso à informação geral nos leva bem perto do ponto da saturação. Trata-se, sim, de que estamos estagnados no extremo oposto: o grau zero de contemplação. Podemos dedicar a ela alguns segundos, quando algum revés emocional ou profissional nos força a "pôr as coisas em perspectiva". Mas como e por quanto tempo? Com muita frequência, só ficamos esperando que "passe o mau momento", buscando ansiosamente alguma distração para "mudar as idéias" ou "refrescar a mente". Mudam os atores e o cenário, mas a peça continua a mesma.
   Por que não sentar-se à margem de um lago, no topo de uma montanha, ou em uma sala tranquila, para examinar de que somos feitos, no mais profundo de nós mesmos? Primeiro, examinar o que mais nos importa na vida, e depois, estabelecer as prioridades entre as coisas essenciais e as outras atividades que forçadamente impomos ao nosso tempo.

Matthieu Ricard em "Felicidade, a prática do bem-estar".

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