Cultivando a sabedoria.

   Na prática da meditação estática, se o seu coração permanecer calmo e concentrado, esse é um instrumento muito importante para explorar. Porém, é preciso ter cuidado para não ficar apegado à tranquilidade. Se você estiver sentado para meditar apenas para ficar concentrado e, com isso, sentir felicidade ou prazer, está perdendo o seu tempo. A prática consiste em sentar-se para meditar e deixar que o coração se aquiete e se concentre e, depois, servir-se dessa concentração para examinar a natureza da mente e do corpo. Caso contrário, se você apenas aquieta a mente e o coração, só haverá paz e pureza enquanto estiver meditando. É o mesmo que pegar uma pedra para esconder o buraco do lixo; ao retirá-la o buraco continuará infestado e cheio de lixo. A questão não está em quanto tempo você medita. Você precisa fazer uso da concentração, não para se perder temporariamente na beatitude, mas para examinar em profundidade a natureza do corpo e da mente. É isso que realmente o liberta.
   O exame do corpo e da mente não implica diretamente o uso do pensamento. Existem dois níveis de exame: um é racionalista e discursivo, prendendo-se numa percepção superficial da experiência; o outro é uma atenção silenciosa, concentrada e interiorizada. Só quando o coração está concentrado e quieto é que a verdadeira sabedoria nasce naturalmente. A princípio, a sabedoria não passa de uma voz muito fraca, de uma frágil plantinha apenas despontando do chão. Se você não perceber isso, talvez pense muito a respeito, mas poderá acabar pisando na plantinha. Porém, se você a cultivar em silêncio, então, nesse espaço, você começará a perceber a natureza básica do seu corpo e dos processos mentais. É essa percepção que o levará a entender a mudança, o vazio e o nada do corpo e da mente.    

Achaan Chah em "Uma tranquila lagoa na floresta".

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