Expectativas...

   Nas tradições orientais existem muitas histórias que ilustram bem o entrave que a expectativa pode criar no processo de silenciar as nossas mentes e serenar os nossos corações. Um desses exemplos, popular entre os budistas tibetanos, conta a trajetória de um velho que vivia numa pequena aldeia a qual, certo dia, recebeu a visita de um lama muito respeitado no país. O velho entrou numa imensa fila de pessoas vindas de toda a região para serem atendidas pelo lama. 
   Permaneceu naquela longa e cansativa espera por vários dias até chegar a sua vez. Ao dirigir-se ao lama disse: "Mestre, já cumpri minha missão de pai de família e trabalhador nesta vida e o meu objetivo agora é apenas encontrar a iluminação. O que devo fazer para consegui-la?" "Meu filho", respondeu-lhe o lama, "há muitas práticas que podem ajudá-lo a iluminar-se." O mestre ensinou-lhe várias delas e aconselhou-o a encontrar um lugar tranquilo e isolado no alto de uma montanha onde houvesse uma caverna para abrigá-lo, de modo que pudesse, então, se dedicar a fazer tudo aquilo que lhe havia transmitido. O velho assim procedeu e durante cinco, dez, quinze, vinte anos concentrou-se totalmente na prática dos ensinamentos do mestre sem que eles surtissem qualquer efeito. Muito idoso, já desanimado, o ancião ouviu dizer que o mesmo lama estava para retornar à cidade. Desceu a montanha, entrou mais uma vez na enorme fila que já se formava e, novamente, aguardou por dias e noites para ser atendido. Ao falar com o lama, contou-lhe tudo o que havia se passado. O monge, então, perguntou: "Quais foram mesmo as instruções que lhe passei?" O velho repetiu-as e o lama, coçando o queixo e balançando a cabeça, respondeu: "Lamento muito, meu filho, mas eu estava enganado. Não há nada que eu possa fazer a respeito." O velho desesperou-se. Rolou no chão, esperneou e quase arrancou os cabelos sem se conformar, até que, cansado, adormeceu. Ao despertar, deu-se conta da situação e num dar de ombros concluiu: "Já fiz de tudo na vida, agora só me resta seguir meditando, como nos últimos vinte anos." Subiu a montanha, dirigiu-se à sua caverna, sentou-se na mesma pedra como há tanto tempo vinha fazendo, entregou-se à situação, relaxou e ... iluminou-se!"
   O lama na sua profunda sabedoria e experiência, percebeu o grande apego do velho às expectativas que criava em relação ao resultado de suas meditações. Sabendo que a iluminação só é possível num estado de total liberdade e reconhecendo que seu discípulo tivera um importante treinamento de paciência, humildade, abnegação, força de vontade, disciplina e perseverança, o mestre fez a coisa mais indicada para ajudar o velho a dissolver seu último apego. Sem dúvida, a atitude do lama foi um ato de grande amor.    

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