A grande compaixão.

   Na visão budista mahayana, existe algo mais além da compaixão imensurável chamada "grande compaixão". A grande compaixão se levanta além do desejo de "que você esteja livre do sofrimento" para "que eu o realize". A grande compaixão carrega a responsabilidade de libertar os outros do sofrimento. Se você se arrepiar com esta idéia, captou a mensagem. Considere todos os conflitos do mundo. Como pode uma única pessoa assumir a responsabilidade de libertar os outros do sofrimento? Relembre várias vezes, cada vez de modo mais profundo: a compaixão sem sabedoria é escravidão. O que "eu" posso assumir sobre a responsabilidade de aliviar o sofrimento do mundo? Eu, como um indivíduo finito, certamente não possuo essa capacidade. A visão budista é que o "eu" como uma entidade autônoma separada, como um ego, nem sequer existe. A visão budista é que minha existência é de inter-relação com todos os que estão próximos. Além disso, a minha existência está também em inter-relação com a mente de buda, presente em toda a parte. E essa conscientização iluminada possui uma capacidade inexaurível de servir às necessidades do mundo. Este é o significado da grande compaixão. Para cultivar e manter a grande compaixão, você precisa de um insight profundo da natureza fundamental da mente. 
   Existem diferentes níveis de compaixão. Existe a "compaixão episódica", quando você sente simpatia por aqueles que estão em sofrimento. Existe uma compaixão mais profunda, que surge com o insight, na qual você compreende a impermanência, o fluxo ou a natureza passageira de tudo à sua volta. Tudo a que você se liga para ter uma vida boa, o corpo, a felicidade, tudo se encontra em um estado de fluxo. Tudo que for adquirido, será perdido. Compreenda profundamente a impermanência e reconheça como os seres sencientes apostam sua vida e a felicidade no que é impermanente. Finalmente, a forma mais profunda de compaixão, a grande compaixão, sem limites e não-dual, surge casada com a compreensão do vazio e não tem objeto algum de incerteza.

B. Alan Wallace em "Budismo com atitude".       

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