Onde está o arco-íris?

   Imaginemos uma rosa recentemente desabrochada cuja beleza admiramos. Como é bela! Imaginemos agora que somos um inseto que come um pedaço da pétala. Como é bom! Visualizemo-nos na pele de um tigre diante do qual é colocada essa rosa. Para ele, a flor ou um feixe de feno não têm diferença. Transformemo-nos no coração dessa rosa e imaginemos ser um átomo. Existimos somente sob a forma de trajetórias energéticas num mundo caleidoscópico, no seio de um turbilhão de partículas que atravessam um espaço quase inteiramente vazio. Onde está a rosa? Onde estão a sua cor, forma, textura, perfume, gosto e beleza? Quanto às partículas, se olharmos de mais perto, são elas objetos sólidos? Certamente não, dizem os físicos. São "acontecimentos" que surgem do vazio quântico, das "ondas de probabilidades" e, enfim, da energia. A energia seria uma entidade? Não seria ela um potencial de manifestação que não é nem não existente nem verdadeiramente existente? O que sobrou da rosa?
   A "vacuidade" de alguma coisa não é a inexistência dessa coisa, mas a sua verdadeira natureza. A vacuidade do arco-íris não é a sua ausência, é o fato de que, quando ele está brilhando com todas as suas cores cambiantes, ele é inteiramente desprovido de existência própria, autônoma e permanente. Basta que o sol, que brilha atrás de nós, seja coberto por um instante, ou que a cortina de chuva pare de cair, para que o arco-íris se esvaneça sem deixar nenhum traço.      

Matthieu Ricard em "A arte de meditar".

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