Reconhecendo e transformando as emoções.

   A palavra "emoção" provém do latim emovore, que significa "pôr em movimento". Uma emoção é, então, o que faz movimentar a mente, seja ela em direção a um pensamento nocivo, neutro ou benéfico. A emoção condiciona a mente e a faz adotar uma certa perspectiva, uma certa visão das coisas. Essa visão pode estar  de acordo com a realidade, no caso do amor altruísta e da compaixão, ou deturpada, no caso do ódio ou da avidez. Como enfatizamos acima, o amor altruísta é uma tomada de consciência do fato de que todos os seres desejam, como nós, ser libertados do sofrimento e se baseia no reconhecimento de sua interdependência fundamental, da qual participamos. O ódio, ao contrário, deforma a realidade ampliando os defeitos de seu objeto e ignorando as suas qualidades. Do mesmo jeito, o desejo ávido nos faz perceber seu objeto como desejável em todos os aspectos, ignorando seus defeitos. Deve-se convir que certas emoções são pertubadoras e outras benfazejas. Se uma emoção reforça nossa paz interior e nos incita ao bem do outro, podemos considerá-la como positiva ou construtiva; se destrói nossa serenidade, pertuba profundamente nosso espírito e nos leva a prejudicar os outros, ela é negativa ou pertubadora.
   O importante não é, então, esforçarmo-nos muito para suprimir nossas emoções, o que seria em vão, mas fazer com que elas contribuam para a nossa paz interior e nos levem a pensar, falar e agir de maneira bondosa com os outros. Para isso, devemos evitar ser o joguete impotente dessas emoções, aprendendo a dissolver as que são negativas à medida que surgem e cultivar as que são positivas. 
   Devemos compreender também que é o acúmulo e o encadeamento das emoções que determinam nossos humores, que duram alguns instantes ou dias, e formam, a longo prazo, nossas tendências e nossos traços de caráter. Assim, se aprendermos a administrar nossas emoções da melhora maneira, pouco a pouco, de emoção em emoção, dia após dia, acabaremos transformando nossa maneira de ser.     

Matthieu Ricard em "A arte de meditar".

Comentários

  1. Gostei muito deste texto.
    Não há como evitar as emoções, que são "cavalos selvagens", mas deixá-las vir, reconhecê-las e não se deixar contaminar com aquelas que não nos fazem bem.

    Namastê.

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